Brasil
June 30, 2015
“Podemos perder os fungicidas atuais rapidamente se continuarmos utilizando-os com essa alta pressão”, diz a pesquisadora Cláudia Godoy.
“Se a segunda safra de soja continuar desta forma, existe grandes possibilidades que nas próximas safras não teremos produtos para controlar a ferrugem asiática.” Esse é o alerta que a pesquisadora da Embrapa Soja Cláudia Godoy faz a toda a cadeia produtiva da oleaginosa. Ela participou esta semana de um debate a cerca do assunto no VII Congresso Brasileiro de Soja, que aconteceu em Florianópolis (SC). Além da ferrugem, o plantio tardio da cultura também pode trazer problemas relacionados a nematoides e outras pragas.
Claudia Godoy, pesquisadora do Embrapa
A pesquisadora relata que a doença, que ingressou no Brasil em 2001, é bastante agressiva e com poder de devastar a produtividade da cultura. Cláudia relembra que a partir de 2007 ficou constatada uma redução da eficiência de um dos grupos de fungicidas desenvolvidos para combater a doença. Atualmente, são três modos de ação para controle da doença, sendo que a dois deles o fungo já adquiriu resistência. “A situação está ficando complicada porque estamos perdendo os produtos para controle da ferrugem. Quando ela ingressou no País em 2001, os fungicidas eram bem eficientes, com 90% de controle, e hoje estão com 15%. Perdemos vários deles ao longo dos anos”, explica ela.
À medida que se passa o tempo para o plantio, a safrinha já capta todo o inóculo do fungo produzido na safra principal e, por isso, acaba sendo necessário fazer um maior número de aplicações nas áreas, o que pode promover uma seleção natural mais rapidamente. “Enquanto na safra principal de soja as aplicações médias são entre duas e três, na safrinha a média deste ano foi de cinco no Estado, chegando a sete em alguns casos. Com a semeadura tardia, temos sempre que usar os melhores produtos e são justamente eles que não queremos perder”, completa Cláudia.
Atualmente, os produtores têm uma falsa ideia que as indústrias de defensivos agrícolas vão trazer soluções para a ferrugem asiática prontamente. “O que ocorre, na verdade, é que não existe nenhum modo de ação contra a doença para entrar no mercado nos próximos dez anos. As empresas não descobriram nada de novo. Podemos perder os fungicidas atuais rapidamente se continuarmos utilizando-os com essa alta pressão.”
A pesquisadora da Embrapa Soja comenta que uma das estratégias para que não se perca tais defensivos contra a ferrugem é a redução da janela de semeadura. “Alguns estados aumentaram o vazio para primeiro de maio. O ideal seria aumentar o vazio para 15 de abril para que os produtores semeassem no máximo até dezembro. Goiás, por exemplo, calendarizou o plantio até 31 de dezembro. É uma medida que não agrada muito aos produtores. No Mato Grosso, por exemplo, gerou-se muita polêmica quando houve a mudança, que foi derrubada, e depois retornou. Os produtores não enxergam que no momento que se perder o fungicida, não haverá o que fazer”, lamenta Cláudia. (V.L.)
Fonte: Folha de Londrina – Autor: Vitor Lopes, Fotos: Celso Pacheco – 23/06/2015