Brazil
January 22, 2025
O grão-de-bico é uma alternativa viável para sistemas agrícolas, mas no Brasil seu cultivo enfrenta diversos desafios. O principal é a falta de conhecimento por parte dos produtores rurais, muitos dos quais nunca cultivaram ou sequer tiveram contato com a planta. “Apesar de existirem tecnologias e informações desenvolvidas pela Embrapa e seus parceiros, o desconhecimento continua sendo uma barreira inicial significativa”, afirma o pesquisador Warley Nascimento, que coordena as pesquisas com as pulses na Embrapa Hortaliças.
Apesar disso, o grão-de-bico é uma cultura de manejo relativamente simples, comparada a outras grandes culturas. Com baixa incidência de pragas e doenças e totalmente mecanizável, seu cultivo apresenta custos de produção reduzidos.
Entretanto, o pesquisador pontua outros dois grandes desafios dos produtores: a falta de sementes de qualidade e a dificuldade de inserir o produto no mercado brasileiro. “O mercado enfrenta resistências, devido ao baixo consumo. E por ser um grão importado, é caro, além de que há importadores consolidados que dominam a cadeia de comercialização”, afirma.
Em relação a adaptação, de acordo com Warley, o grão-de-bico é uma planta que não tolera altas temperaturas nem excesso de água. Originária de regiões áridas no sudoeste da Ásia, a cultura se adapta melhor ao plantio de outono e inverno, em regimes de sequeiro ou irrigados. “Regiões de maior altitude, como o Sul, sudeste, centro-oeste e áreas específicas como Campos Novo do Parecis e Brasília, apresentam condições favoráveis para o cultivo devido ao clima mais ameno”, explica.
Além disso, é uma cultura rústica e sustentável, com baixo uso de insumos e capacidade de realizar fixação biológica de nitrogênio, similar à soja. Isso reduz os custos de produção e o impacto ambiental.
Com uma média de produção de 2 a 3 toneladas por hectare, o Brasil já supera a produtividade mundial, que varia de 800 a 900 quilos por hectare.
Potencial de mercado
O grão-de-bico apresenta um potencial significativo no Brasil, especialmente devido ao crescente número de pessoas que optam por dietas veganas ou vegetarianas. “Hoje, estima-se que entre 25 e 30 milhões de brasileiros declarem seguir essas dietas, ampliando a demanda por fontes alternativas de proteínas vegetais. O grão-de-bico também é atrativo para pessoas celíacas e para quem busca alimentação mais saudável”, pontua o pesquisador.
Na visão dele, o aumento do consumo interno poderá ajudar a reduzir as importações e, eventualmente, transformar o Brasil em um exportador, especialmente para mercados como o asiático. O pesquisador destaca que o Brasil, sendo um grande produtor de commodities, tem todas as condições de desenvolver esse mercado, oferecendo alternativas viáveis para produtores rurais.
Avanços tecnológicos
A Embrapa, em parceria com outras unidades, universidades, cooperativas e produtores, tem trabalhado no desenvolvimento de tecnologias e na adaptação do grão-de-bico às condições brasileiras. Entre as iniciativas estão a geração de cultivares mais tolerantes a pragas, déficit hídrico e geadas. Também foram desenvolvidas soluções mecanizadas para todas as etapas do cultivo, desde o plantio até a colheita.
Além disso, a Embrapa tem promovido a diversificação de cultivos e a conscientização sobre os benefícios nutricionais do grão-de-bico, destacando sua versatilidade na culinária. Com apoio de instituições como o Instituto Brasileiro de Feijões e Pulses (IBRAFE), eventos e encontros vêm reunindo produtores, importadores e cooperativas para fortalecer a cadeia produtiva.
Recentemente, a cultivar BRS Cristalino de grão-de-bico desenvolvida pela Embrapa Hortaliças em cultivos em São Paulo foi o grande destaque do Pulse Day, evento ocorrido em Guaira.
Perspectivas futuras
“O futuro do cultivo de grão-de-bico no Brasil depende de ações conjuntas entre governos, instituições de pesquisa e o setor privado. Além de ampliar o acesso a sementes de qualidade, é essencial aumentar a conscientização da população sobre os benefícios do consumo de grão-de-bico, criando demanda interna”, conclui Warley.