Brasília, Brasil
10 de setembro de 2012
Evento contou com palestra do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, sobre "inovação na agricultura"
Uma audiência pública na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia no dia 5 de setembro discutiu os principais resultados de P&D obtidos pela Unidade em 2011 e 2012 e as prioridades para os próximos anos. O evento marcou a posse do novo CAE – Comitê Assessor Externo e contou com palestra do ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues.
![](http://www.cenargen.embrapa.br/_comunicacao/2012/img/0912_10_palestraRobertoRodriguesCAE1.jpg)
O chefe-geral, Mauro Carneiro, destacou a construção do novo prédio do banco genético vegetal como um dos principais resultados obtidos pela Unidade em prol da pesquisa agropecuária brasileira. O novo espaço, que já está em fase final de construção, tem capacidade para conservar 700 mil amostras de sementes, com toda a infraestrutura e segurança à altura do que a Embrapa e a sociedade brasileira merecem.
Atualmente, o banco genético mantido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF, é o maior da América Latina, com mais de 110 mil amostras de sementes de 670 espécies de importância socioeconômica.
Carneiro ressaltou outros resultados obtidos pela Unidade nos últimos anos, como a reestruturação do modelo de P,D&I implementado em 2011 com foco na inovação. O processo resultou na criação de 10 grupos de pesquisa que preconizam a discussão científica e tecnológica para identificação, proposição e construção de projetos colaborativos nos grandes temas de pesquisa. A criação dessa nova estrutura promoveu maior sinergia das competências internas para a consecução da missão da Unidade, para o êxito de sua programação de pesquisa e aproximação com as ações gerenciais da P&D.
Palestra enfoca inovação na agricultura
Um dos destaques da audiência pública foi a palestra "Inovação na agricultura" apresentada pelo ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas – FGV, Roberto Rodrigues.
Rodrigues é engenheiro agrônomo, professor e político. Foi ministro da Agricultura no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de 1 de janeiro de 2003 a 3 de julho de 2006.
Durante a palestra, o ex-ministro destacou alguns problemas do contexto atual que dificultam a inovação na agricultura, como por exemplo, a ausência de lideranças, de marcos regulatórios e de estratégias bem definidas. Segundo ele, a Embrapa tem papel determinante para mudar esse cenário. Confiram, abaixo, a entrevista de Roberto Rodrigues:
WN – Quais são os principais entraves para que a inovação chegue ao setor agrícola?
Roberto Rodrigues – Um dos principais entraves para o desenvolvimento agrícola no Brasil hoje é a falta de líderes. Aliás, esse é um problema que, infelizmente, não se restringe à realidade brasileira. Na verdade, o mundo contemporâneo sofre com a ausência de líderes. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tinha potencial para assumir esse papel, mas a crise econômica acabou prejudicando. Apesar de paradoxal, a falta de rumo global é conseqüência do próprio processo de globalização. Em um mundo de incertezas e de falta de comando, é muito difícil alcançar avanços consistentes em qualquer setor da economia, incluindo o agrícola. O mundo precisa com urgência de um programa de governança global.
WN – E essa situação se reflete no Brasil?
Roberto Rodrigues – Sem dúvida. O Brasil tem potencial para ser o líder agrícola mundial, especialmente se considerarmos os dois principais tópicos dessa discussão no cenário atual: a segurança alimentar e a energia sustentável. A revolução tecnológica que ocorreu no Brasil não tem precedentes em nenhum outro país do mundo. A produção de grãos no país, considerando soja, milho, trigo, arroz e feijão, deverá passar das atuais 153,3 milhões de toneladas para 185,6 milhões em 2021/2022. Isso indica um acréscimo de 32,3 milhões de toneladas à produção atual do país. O Brasil é um dos poucos países do mundo que pode ampliar a produção de alimentos com ganhos reais de produtividade e mantendo a salvo suas reservas naturais. Por isso, eu digo e repito: o Brasil tem condição de assumir a governança global no cenário agrícola mundial.
WN – E o que, em sua opinião, ainda falta para o Brasil chegar a esse lugar de destaque no cenário agrícola mundial?
Roberto Rodrigues – Como eu já falei, falta liderança. Além disso, o país precisa também de estratégias e marcos regulatórios mais bem definidos. É premente que os formadores de políticas públicas no Brasil percam menos tempo com discussões intermináveis e infundadas, como a do Código Florestal, por exemplo, e se dediquem a questões mais pontuais. O Brasil deveria estar focado na elaboração de um código agroambiental, que envolva também florestas. Infelizmente, a discussão do Código Florestal está sendo conduzida por um viés muito mais ideológico do que científico. Aliás, esse é um reflexo de um problema maior: o enorme gargalo que separa hoje a realidade urbana da rural. Os formadores de opinião brasileiros estão concentrados nos centros urbanos. Por isso, é fundamental que as instituições que promovem ciência no Brasil hoje invistam na divulgação das tecnologias para as áreas urbanas.
WN – E qual é o papel da Embrapa para esse salto tecnológico brasileiro?
Roberto Rodrigues – Central. Absolutamente determinante. A Embrapa domina tecnologias de ponta como a biotecnologia e a nanotecnologia, que podem ser os diferenciais para o Brasil alcançar a governança global no cenário agrícola mundial. A tecnologia é o trampolim para a competitividade. Mas, para isso, é fundamental que a Empresa invista com mais força na cooperação com cooperativas e outras instituições que possam agilizar o repasse de suas tecnologias ao setor produtivo. O Brasil tem um potencial gigantesco para dar um salto competitivo e a Embrapa, com a capacidade científica que possui, é a locomotiva para esse desenvolvimento. Mas o Estado precisa ser mais atuante. A bola está na marca do pênalti, sem goleiro, mas no momento, não temos quem chute. Graças ao heroísmo das instituições brasileiras como a Embrapa, o IAC, as universidades, entre outras, a ciência brasileira continua avançando, mas elas precisam e merecem contar com a ajuda da máquina administrativa.